Não existe apenas uma explicação para a tendência de aumento de cesarianas, mas se uma há que tem ganho terreno, é a “mão pesada da Justiça”.
Carlos Reis, obstetra e ginecologista há 18 anos e ex-chefe de equipa demissionário no Hospital Distrital de Faro, explica porquê: “Admito que seja uma defesa do próprio técnico, que pode estar sob avaliação em termos legais se houver contratempos no parto”, diz.
Por outro lado, existe a pressão das mães, que insistem cada vez mais em solicitar os partos de cesariana. “Há até já quem admita que se deve fazer cesariana (no público) a pedido da mãe”, adianta.
Admitindo que “cada caso é um caso”, Carlos Reis afirma que as cesarianas devem ser a excepção e não a regra, como parece ser cada vez mais o caminho, até na formação dos internos: “A aplicabilidade dos forceps e ventosas têm condutas especiais e hoje os jovens começam ao contrário. Só ao fim de um ano de estágio com os partos normais se devia passar para as cesarianas, mas hoje é precisamente por aí que eles começam”, garante.
O obstetra reconhece também que o número de profissionais é insuficiente para o aumento de situações que acorrem às Urgências, o que resulta num menor acompanhamento durante o trabalho de parto.
Desta forma, situações que poderiam ser detectadas neste período e “corrigidas”, mantendo a hipótese de um parto vaginal, acabam por ser transformadas em urgentes, com a consequente cesariana.
Esta é uma realidade que os profissionais com responsabilidade conhecem bem, mas que nem sempre questionam: “Hoje os directores de serviço estão para servir os interesses administrativos e não como técnicos para zelar pelo paciente, orientam-se em função da quantidade e não da qualidade”, critica.
O aumento das cesarianas, constatado a nível europeu, acaba por ter impacto directo nas contas da saúde. É que, para além de ser uma intervenção cirúrgica com um período mais longo de internamento (cerca de 4 dias, em média contra 2 em parto normal), o que leva à maior ocupação de camas, existe ainda o factor preço: segundo o especialista, uma cesariana poderá rondar os 5 mil euros, ao passo que um parto normal custará cerca de metade.