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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Novos conceitos de saúde - workshop para técnicos de saúde

Com o patrocínio da Humpar vai realizar-se dia 29 de Outubro no Porto um workshop sobre humanização do parto para médicos e enfermeiros obstetras, parteiras e estudantes de medicina ou enfermagem com Debra Pascali Bonaro, doula e formadora certificada pela DONA International (Doulas Of North America).

Programa do workshop (clique na imagem para aumentar):

O custo do workshop é de 40 euros. Para inscrições ou mais informações, contactar a doula Bárbara Yu ou a Humpar (Associação Portuguesa pela Humanização do Parto).

sábado, 20 de outubro de 2007

Parto Humanizado

A discussão sobre Cesariana X Parto Normal é muito antiga aqui nas linhas cibernéticas. Quem milita nas listas de discussão há alguns anos sabe que este debate vai e volta, sistematicamente, como um ioiô ideológico. Esta ótica específica da humanização - como algo relativo ao "humano" - foi amplamente debatida nesta lista há alguns anos, e re-debatida sistematicamente de tempos em tempos. Eu tenho um ponto de vista bem claro sobre o assunto, expresso no meu livro e nas minhas palestras, de que a "Humanização do Nascimento" tem a ver com um movimento filosófico chamado HUMANISMO, que, contrapondo-se ao teocentrismo da idade média, coloca o ser humano em destaque e oferece a ele o protagonismo de seu destino. Meu colega Maximilian consagrou a frase "Humanizar o nascimento é restituir o protagonismo à mulher" exatamente para oferecer este direcionamento ao movimento que visa humanizar partos. Segundo ainda Maximilian, sem o protagonismo garantido à mulher somente conseguiremos a "sofisticação da tutela", que não oferece a profundidade das mudanças geradas pela insensibilidade do paradigma biomédico de atender as necessidades básicas de uma mulher parindo.

Desta maneira fica claro entender que uma cesariana não pode ser "humanizada" exatamente porque a mulher NÃO POSSUI o protagonismo: ela está à mercê da técnica e da assistência ostensiva do profissional que a atende. Por outro lado, é certo que uma cesariana pode ser "humana", tanto na concepção óbvia espécie-específica (pois é feita em seres humanos) quando na conotação de "gentil e respeitosa". Muito da discussão que observei sobre esta questão deve-se aos conceitos, ora equivocados, ora confusos, sobre o que vem a ser humanização. Cesariana é cirurgia, e no conceito que queremos dar à humanização ela NÃO tem como ser humanizada, pois aliena a mulher da sua condução (mesmo quando bem indicada). Por outro lado, um PARTO VAGINAL pode ser deveras DESUMANIZADO, e mesmo DESUMANO, quando impede a mulher de tomar qualquer decisão sobre seu corpo, ou quando a trata de forma rude, grosseira e mesmo violenta. Humanizar o nascimento é colocar a mulher como condutora do processo; tornar o parto "humano" é tornar a assistência mais suave, gentil e adequada. Entretanto, uma atitude gentil pode ocorrer até mesmo em partos desumanizados (sem protagonismo).

Eu acredito que esta discussão fica acalorada por causa de seu evidente conteúdo erótico. Explico: parto é constituinte da vida sexual normal de uma mulher. Quando falamos em nascimento, parto, dores, contrações, vagidos e gemidos, estamos falando do EROTISMO pulsante e vivo que permeia este momento. É por esta razão que a discussão fica tão forte, mesmo quando eu vejo nítidos vértices de contato nos discursos de muitos debatedores. Não há duvida que existem diferenças claras do ponto de vista emocional, afetivo, psicológico e físico entre um parto vaginal e uma cirurgia, a qual sem dó nem piedade rompe 7 camadas de tecido para atingir a intimidade uterina. É claro para todos, também, que uma mulher NÃO se define pelo tipo de parto que teve: ninguém é mais mulher por ter tido um parto normal. Por outro lado, ninguém é mais homem por ter as duas pernas, mas a ninguém parece justo negligenciar as suas, e tampouco existem pessoas para quem perder as pernas não tem importância. Assim podemos entender o parto normal: não define a qualidade de uma mulher, mas não pode ser entendido como supérfluo ou desprezível para ela. O evento do nascimento é um momento impressionante na vida de uma mulher; divisor de águas é capaz de fazê-la naufragar em uma depressão melancólica (por reforçar suas fantasias inconscientes de impotência) ao mesmo tempo em que pode alçá-la a um patamar inimaginável de segurança, auto-estima e determinação. Uma encruzilhada ímpar. É fácil ver que isso pode ser atingido SEM a experiência de um parto (que o digam Madre Teresa, Jesus Cristo, etc.), mas nem por isso podemos fechar os olhos à sua imensa potencialidade criativa.

A ansiedade que percebemos no que tange a esta discussão se origina exatamente de sua dimensão sexual. Falar do próprio parto é falar do seu sexo, da sua intimidade, de sua competência feminina. Por esta razão é importante que tenhamos esta visão até para que possamos contextualizar o debate e não torná-lo tão duro.

Ainda sobre os conteúdos sexuais, basta que estejamos presentes em um nascimento humanizado para perceber que TUDO ali transpira sexualidade. Uma mulher deixada vagar livremente pelos seus desejos pode encontrar o êxtase no nascimento de um filho. Permitindo-se que ela transite pelo gozo indescritível desta passagem - sem interrupção e sem censura - ela poderá descrever seu parto (como já fui testemunha tantas vezes) como o momento mais prazeroso de sua vida.

Pois é aí que está o segredo tão bem guardado !!

Aqui se encontra o mistério recôndito. Se as mulheres soubessem o quanto existe de realização e transcendência no ato de parir estas discussões terminariam da mesma forma como se dissipa a névoa com a chegada do sol. Foram os homens que inventaram as dores lancinantes de parto, apenas para fazer valer sua técnica e seus aparatos tecnológicos. Era preciso fazer a mulher descrer em si para que ela acreditasse na idéia que somente através da intervenção sobre este corpo defeituoso é que se alcança sucesso no nascimento.

Que triste !!

Tanta força e tanta energia sexual desperdiçadas !!! Mas eu dizia ao mestre Marsden que não acredito que possamos enganar todas as mulheres por todo o tempo. Um dia elas vão acordar de seu sono de menosvalia, e reclamar de volta o que sempre foi seu.Neste dia o nascimento humano voltará a ser um momento deslumbrante, para uma nova sociedade de paz.

Minha amiga Simone Diniz me disse há muitos anos uma frase que muito me irritou e me obrigou a refletir, até que eu finalmente aceitei e entendi: "A escolha pela cesariana é uma opção pela dignidade". O que vemos na sociedade contemporânea ocidental, no que tange ao parto, é um FALSO DILEMA: de um lado um nascimento violento regulado por pressupostos mecanicistas e positivistas, onde se aniquilam o psiquismo e a afetividade maternas em nome de uma ilusória objetividade cartesiana, junto com uma falsa promessa de segurança. Do outro lado uma cesariana, que é o ápice da alienação feminina sobre o nascimento, e onde se oferece o total controle médico sobre o evento. Neste contexto, optar por uma cesariana pode ser simplesmente o desejo de que seu parto seja minimamente digno, onde não haja alarido e violência verbal (por vezes física) na sala de parto. Optar pela cirurgia é ter controle (sim, o controle de decidir-se a fazê-la) para poder fugir da grosseria e da humilhação de parir sob o olhar de uma platéia onde podem até estar presentes curiosos, ignorantes e outros despreparados.

O drama é que estas são as DUAS ÚNICAS alternativas oferecidas nos dias de hoje: partos humilhantes ou cesarianas alienantes, "limpas e seguras". Quase NINGUÉM (ok, muito poucos) oferece um parto digno, bonito, prazeroso, carinhoso, afetuoso e digno. ESSA É A LUTA !!!

Os humanistas do nascimento não se contrapões às cesarianas (sou deslumbrado por esta história, de Edoardo Porro, passando por De Lee até os neo-cesaristas, como Marcelo Zugaib), mas nos insurgimos contra o abuso e a falsa promessa de redenção implícita no oferecimento de uma cirurgia como esta. Lutamos contra a objetualização e coisificação da mulher, seja numa cesariana ou num parto vaginal "Frankenstein", como bem dizia a Roselene. Somos visionários que enxergamos o nascimento como ATO REVOLUCIONÁRIO e libertário, que se opõe ao sexismo do patriarcado abrahâmico castrador, e que oferece uma nova visão para o porvir da humanidade, onde os nascidos de mulher serão acolhidos com amor.

A simples diminuição matemática do índice de cesarianas não parece ser algo adequado. Diminuir a incidência dessas cirurgias sem a concomitante modificação da ideologia da assistência ao parto só pode produzir uma situação mais dramática do que a anterior. A falta de compreensão do sistema biomédico contemporâneo das necessidades básicas de uma mulher ao parir está na gênese do descalabro na assistência. O problema reside no modelo cartesiano aplicado ao nascimento, que entende o psiquismo apartado da "Humani Corporis Fabrica", e define a mulher como um aparelho defeituoso, equivocado e falho em essência. Sem uma mudança radical na visão que temos da MULHER vamos apenas criar aberrações sobre aberrações, sem nunca atingir o núcleo do transtorno. Precisamos mudar a forma de entender o feminino, para assim modificar o olhar que lançamos às grávidas.

A tese do "protagonismo devolvido" e o rechaço à idéia de sermos "contrários à cesariana" são pontos nevrálgicos na discussão sobre a humanização do nascimento. Além disso, é importante trazer à tona a idéia de que abolir ou dificultar o acesso às cesarianas é inútil e até perigoso, porque a falha não é no seu uso (que não é causa, e sim conseqüência), mas na própria visão que temos da mulher e suas funções femininas. Precisamos nos dedicar a uma tarefa muito mais complicada e difícil do que simplesmente baixar nossas taxas de intervenção: necessitamos criar a "nova mulher", liberta dos grilhões do patriarcado e longe do revanchismo do antigo feminismo antropofágico. Precisamos, por fim, oferecer às gestantes e parturientes o suporte afetivo, espiritual e emocional que foi a marca de nossa ancestralidade, e aquilo que nos define como 'humanos", que é a capacidade de cuidar dos semelhantes (Leonardo Boff).
Ricardo Jones, MD*


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O Dr. Ricardo Herbert Jones é médico ginecologista, obstetra e homeopata em Porto Alegre, RS, no Brasil, onde já atendeu a mais de 1500 partos em 17 anos de profissão. Adepto do parto natural e um grande entusiasta do parto humanizado, é também um dos líderes mundiais na discussão sobre a melhoria da qualidade no atendimento às parturientes. É membro da Rehuna, consultor médico das Doulas do Brasil e do grupo Amigas do Parto. É também o coordenador para a área médica da HumPar - Associação Portuguesa pela Humanização do Parto e um grande amigo e apoiante das Doulas de Portugal, sendo um valioso participante na lista de discussão. Trabalha há vários anos em parceria com a doula Cristina Balzano e com sua esposa, a enfermeira obstetra Neusa Jones.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Aleitamento Materno: uma forma de salvar vidas

Hoje no Sociedade Civil, programa emitido em directo na 2: por volta das 14h, vai abordar-se o tema “Aleitamento Materno: uma forma de salvar vidas”.

16% das mortes de recém-nascidos podem ser evitadas através da amamentação dos bebés desde o primeiro dia de vida, revela um estudo recentemente publicado na revista científica Pediatrics. Na Semana do Aleitamento Materno que hoje começa vamos explicar quais as vantagens de amamentar: os nutrientes que o leite materno possui, contra que doenças pode proteger o bebé, de que forma reforça o vínculo com a mãe? Com os melhores especialistas dos parceiros do Sociedade Civil, vamos perceber que implicações este gesto tem no desenvolvimento e crescimento das crianças.

Convidados:
Ana Raposeira

Doula, representante da Associação Doulas de Portugal e voluntária do SOS Amamentação
Alexandra Bento
Presidente da Associação Portuguesa dos Nutricionistas
António Gomes
Médico Pediatra
Lúcia Leite
Presidente da Comissão especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia

Em www.sociedade-civil.blogspot.com poderão ver os comentários ao programa. Todos os dias é colocada online a sinopse do tema do dia para discussão. Se quiser participar a posteriori, basta escrever o seu comentário e quando assinar, escolher a opção other e colocar o seu nome. > O programa emitido estará disponível logo depois da emissão em http://www.multimedia.rtp.pt

Rubrica: Doulas de Portugal
Ana Raposeira
A rubrica desta segunda-feira, a rubrica Doulas de Portugal visa informar os nossos telespectadores sobre o que são as Doulas de Portugal e que actividades promovem.

Semana Mundial do Aleitamento Materno


Decorre de 8 a 14 de Outubro a Semana Mundial do Aleitamento Materno. O programa está disponível em: http://www.mamamater.eu/SMAM07.pdf

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Recomendações da OMS

Novamente mas nunca é demais relembrar e desta forma então...
Pena que estas recomendações não sejam sempre escrupulosamente cumpridas...

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Resgatando o parto natural
29 de Setembro de 2007 pelas 14h30m
Tao centro de yoga e bem-estar - Figueira da Foz
Inscrições até 26 de Setembro

Os desenvolvimentos que foram acontecendo, em especial a partir da segunda metade do século passado e em particular na área da saúde, e que nos acompanham na actualidade, têm sido colocados à disposição do ser humano no sentido de dar respostas a algumas das suas necessidades. Verifica-se contudo que todos estes recursos têm vindo a ser utilizados de forma indiscriminada, traduzindo muitas das vezes modificações do comportamento humano. O parto tem sido dos exemplos mais paradigmáticos do quanto o recurso à tecnologia e ao medicamento foi modificado na sua essência. De um processo natural e humano, foi transformado em processo patológico que necessita de internamentos, medicamentos e actos médicos complicadíssimos.O resgate do parto como evento natural e humano impõe-se hoje à alternativa do parto medicalizado e intervencionado no sentido de devolver à mulher o protagonismo deste evento e o poder do momento.

Objectivos do workshop:

- Conhecer as diferentes perspectivas do parto nos nossos dias;
- Obter informações sobre o parto nos nossos dias;
- Conhecer quais as ajudas que se pode ter na assistência ao parto;
- Conhecer as vantagens para a mulher, família e sociedade do parto natural;
- Desmistificar tabus e mitos sobre o parto;
- Conhecer métodos de alívio da dor no parto natural;
- Conhecer diferentes formas de parir no parto natural;

Intervenientes:

Aleksandra Berg
Antropóloga da Cultura especializada em Antropologia da Saúde e Doula da Associação de Doulas de Portugal. Ainda durante os estudos integrei a equipa do European Environment Centre, em Varsóvia, ONG dedicada à sensibilização ambiental a nível europeu. Em 2001, numa parceria com a associação Quercus, viajo para Portugal e desenvolvo o projecto de voluntariado europeu "Pensam que é por milagre – Usos da Natureza na Cultura Popular das Beiras”. Fui bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) no projecto de investigação "Vivências de Saúde e Bem-Estar" na Universidade Aberta, que incidiu sobre os hábitos de vida e suas implicações na saúde.

António Manuel Rodrigues Ferreira
Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstétrica a trabalhar no Bloco de Partos de uma Maternidade Central e, como Professor convidado, no Instituto Superior Jean Piaget de Viseu na Escola Superior de Saúde. Mestrado em Ciências da Enfermagem, Pós-graduação em Pedagogia da Saúde, Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde, Formação de Formador, Formação/Formador em Aleitamento Materno.

Cristina Silva
Doula da Associação de Doulas de Portugal. Delegada distrital da Humpar (Associação Portuguesa de Humanização do Parto) do distrito de Coimbra. Fez formação de Doula pela Associação de Doulas de Portugal e pela DONA International (Doulas of North América). Como Doula oferece apoio emocional, informativo e físico a mulheres na gravidez, parto e no pós-parto. É autora do blog “Sobre(viver) a Cesariana” (http://sobcesaria.blogspot.com/) que trata de questões sobre humanização do nascimento e colabora no blog da Associação de Doulas de Portugal (http://doulasdeportugal.blogspot.com/). Criou um fórum de apoio direccionado especialmente para mulheres submetidas à cesariana e grávidas. É mãe de um menino com 2 anos e é engenheira civil de formação académica.

Mary Zwart
É uma parteira Holandesa. Graduada pela "Amsterdam Midwifery School" em 1969. Recebeu formação de enfermagem no Leiden Academic Hospital. Exerceu a profissão de forma liberal de 1973 até 1996. Desde 2000 que participa num movimento pela humanização do nascimento no Brazil. É fundadora da European Perinatal School assim como é membro da European Network of Consumers and Childbirth Educators and the Coalition for Improving Materity Services. Mary gosta de ensinar obstetrícia internacionalmente e recentemente voltou a exercer a profissão de parteira. Tem uma filha e gosta de colecionar objectos obstétricos.

Para inscrições:
Tao centro de Yoga e bem-estar
Pr. General Freire de Andrade (Praça Velha) 20 1º
São Julião - Figueira da Foz
telefone: 91 423 80 10
email: tao.centro@gmail.com
Preço por pessoa: 25 euros
Preço por casal: 40 euros

sexta-feira, 13 de julho de 2007

VBAC de gémeos

Mais uma experiência de vida que nos inspira, vislumbra e emociona.
É possivel e é real



quinta-feira, 31 de maio de 2007

VBAC após 3 cesarianas...

A história de uma mulher que não desistiu do seu sonho de parir um filho de forma fisiológica e natural.
Vale a pena clicar no link, é um slideshow verdadeiramente inspirador e emocionante...

terça-feira, 8 de maio de 2007

Semana Mundial Pelo Parto Respeitado

A presente semana de 7 a 13 de Maio é a “Semana Mundial Pelo Parto Respeitado”.

Com a preciosa colaboração da congénere argentina “Dando a Luz”, a HumPar traduziu e lançou no seu site uma série de 5 vídeos/spots que podem ser vistos em:
Agradecíamos que reencaminhassem esta informação a todos os vossos contactos para que esta mensagem tenha o alcance que todos desejamos. Um pequeno gesto que fará toda a diferença!

No passado dia 02 de Maio passou um documentário sobre humanização do parto intitulado "Donas do Parto" da jornalista Rita Ferreira da TVI. Um documentário de muita qualidade que podem visualizar em :
Porque nascer faz parte de todos, mas em especial de cada um...

quarta-feira, 4 de abril de 2007

O papel da Doula

O parto há alguns anos atrás era considerado como um acontecimento de mulheres e para mulheres. As mulheres tinham os seus filhos em casa, rodeadas das mães e/ou irmãs e outras mulheres que lhes prestavam o apoio emocional e físico e a parteira. Assim era no tempo de minha avó. Ela teve 10 filhos e todos foram amamentados até aos 2-3 anos. Nunca teve dúvidas se conseguiria ou não parir, se conseguiria ou não amamentar os seus filhos. Tinha um profundo conhecimento da sua sabedoria interior, conhecia a capacidade inata do seu corpo para a tarefa da maternidade. Entrou em trabalho de parto naturalmente, os trabalhos de parto e partos decorreram sempre sem pressas, sem adição de quaisquer agentes externos no seu corpo, tudo decorreu a seu tempo e ao sabor da vontade do corpo dela e do corpo dos seus bebés.

A transferência dos partos de casa para o hospital fez com que este cenário passasse a ser vivido apenas por uma pequena percentagem de mulheres. Para a grande maioria das mulheres o parto é visto como algo a suportar para “merecer” o prémio final que é ter um filho.

A sociedade tratou de afastar as mulheres da sua sabedoria interior. Os cenários de partos em intimidade, privacidade foram substituídos por salas estéreis e frias, por vozes de comando sobre o que a mulher deve ou não pode fazer durante o seu trabalho de parto e parto e o emprego de forma rotineira de práticas e procedimentos que não estão suportados por evidências científicas e que, salvo raríssimas excepções, não trazem mais-valias para ela ou para o seu bebé. Estas práticas e procedimentos incluem a tricotomia (raspagem dos pêlos públicos), o clister ou enema, a perfusão endovenosa, o jejum, a rotura precoce de membranas, a aceleração do trabalho de parto, a monitorização electrónica contínua, a episiotomia, o trabalho de parto e o parto em posições supina (deitada de costas), etc... O suporte emocional passou a ser quase inexistente com a transferência dos partos de casa para os hospitais.

Na década de 1970, John Kennell e Marshall Klauss realizaram um estudo em que provaram, através de seis experiências clínicas controladas, que a presença de uma pessoa de apoio ao parto, do sexo feminino, encurta o tempo do primeiro parto numa média de duas horas, diminui a hipótese de cesariana em 50 por cento, parto com fórceps em 40 por cento, diminui a necessidade de medicação para as dores e anestesia epidural em 60 por cento, ajuda o pai a participar com confiança e aumenta o sucesso na amamentação. [1] [3] [4]

Para designar as mulheres que sem aptidão profissional prestavam apoio no parto, no estudo efectuado por John Kennell e Marshall Klauss foi usado o termo doula.

A doula sobrepõe-se à frieza do ambiente hospitalar dando apoio emocional na gravidez, parto e pós-parto, escutando as dúvidas, anseios e medos da mulher e do seu companheiro durante o período maravilhoso que é a gestação, o parto e o pós-parto, não os deixando sem resposta, contribuindo para o reforço da confiança da grávida no seu próprio corpo, na sua capacidade inata de parir e amamentar o seu filho, tentando reaproximar a mulher da sua sabedoria interior.

Uma doula é alguém que, com ou sem experiência da maternidade, tem uma grande capacidade de amar o próximo (é principalmente de amor, segurança e confiança que a mulher que está para dar à luz precisa), está consciente da sua sabedoria interior, conhece o poder do corpo feminino, acredita na capacidade inata das mulheres parirem e tem vocação para apoiar outras mulheres nesta maravilhosa etapa que transformará para sempre as suas vidas.

A doula acima de tudo tem que saber escutar as necessidades da mulher grávida, procurando saber o que ela pretende com a sua gravidez e as suas expectativas em relação ao parto. Uma doula é uma amiga, alguém que independente das suas convicções presta apoio e aconselhamento sem nunca dizer não deves ou não podes mas oferecendo a máxima informação possível para que a grávida/casal possa tomar as suas próprias decisões de uma forma consciente e informada.

A doula é alguém que sabe o que a mulher que está a parir quer ou precisa sem recurso a palavras. Ela tem um profundo conhecimento da mulher que acompanha, conhecimento este que vai adquirindo ao longo dos encontros que tem com ela e/ou com o seu companheiro durante a gravidez. A doula é uma mulher discreta no cenário do parto, é uma mulher que não interfere no processo de nascimento, não observa, está ali como uma mãe que presta apoio a um filho, está ali para satisfazer as necessidades básicas da mulher em trabalho de parto. A Doula não faz qualquer tipo de acto médico e portanto não substitui qualquer dos profissionais envolvidos na assistência ao parto.

A doula entra no espaço de uma parturiente, reage prontamente e está consciente das suas necessidades, disposição alterações e sentimentos calados. Não necessita de controlar nem abafar. Todas as grávidas deviam ter os benefícios de uma doula. A doula não prejudica o papel do pai do bebé. Realça-o e liberta-o para se dedicar à tarefa tão importante de amar a mãe. [3]

Tal como o Dr. John Kennel disse um dia, se um medicamento tivesse o mesmo efeito de uma doula seria contra a ética não o utilizar. [3]

[1] Apontamentos da Formação de Doulas
[2] Jones,R.(2004), Memórias do Homem de Vidro - Reminiscências de um Obstetra Humanista
[3] Northrup, C.(2000), Corpo de Mulher Sabedoria de Mulher
[4] Odent, M.(2005), A Cesariana, Operação de Salvamento ou Indústria do Nascimento?
[5] http://www.doulasdeportugal.org/
[6] http://www.doulas.com.br/
[7] http://www.dona.org/
[8] www.doulas.info/publi.php
[9] http://www.paramanadoula.com/doula.php

segunda-feira, 26 de março de 2007

VBAC e Indução farmacológica: ajuda ou obstáculo????

Tens 38 semanas de gravidez e desejas ter um VBAC (parto vaginal após cesariana). O teu médico ou parteira estão de acordo com o teu plano, mas no entanto, sugerem-te uma indução de parto para aumentar as tuas possibilidades de conseguir um VBAC. Estás segura que é isso que queres?

A indução só está indicada medicamente se tu ou o teu bebé têm um problema de saúde específico, como diabetes mellitus ou eclampsia. Nenhum estudo realizado até agora demonstrou que a indução por rotina melhore os resultados do parto (1). Lamentavelmente, apesar da falta de provas convincentes sobre os seus benefícios, a indução converteu-se em algo comum para todas as mulheres grávidas, desejem ter um VBAC ou não. Ainda que a indução esteja extremamente difundida nos Estados Unidos e em outros países não a faz uma opção inócua. Existem razões pelas quais o seu uso te pode levar a ter outra cesariana, em vez de te ajudar a ter um VBAC.

Taxas de Cesarianas
Em geral, os estudos demonstram que a indução aumenta a taxa de cesarianas em vez de diminui-la. Num estudo recente que utiliza dados compilados desde 1997 até 1999, a taxa de partos vaginais é maior no grupo onde o parto aconteceu espontaneamente que no grupo em que o parto foi induzido. Só 50% das induções conduziram a um VBAC de sucesso (2). Num outro estudo, o risco de sofrer uma cesariana foi de 1.5 vezes maior nos partos induzidos que nos partos espontâneos (3). Induzir o parto, na primeira tentativa de ter um VBAC, aumenta a taxa de cesarianas seguintes (4).

Riscos da indução
Outro elemento a considerar quando se elege uma indução é que, além de aumentar a possibilidade de sofrer outra cesariana, aumenta os riscos para ti e para o teu bebé. A indução incrementa o stress que o bebé experimenta, aumenta o risco de sofrimento fetal, especialmente quando utilizam as doses mais altas de oxitocina e misoprostol (5) (6) (7). A mãe deve ser vigiada cuidadosamente porque a indução pode produzir contracções demasiado fortes. As contracções artificiais são mais difíceis de suportar para ti e para o teu bebé, uma vez que o período entre contracções é mais curto e o bebé não recebe tanto oxigénio. Em alguns casos, a indução causa a separação precoce da placenta (placenta abrupta) (8) (9).
Ao eleger uma indução a probabilidade da mãe eleger ou necessitar de uma epidural para suportar as contracções aumenta (10) (11). A epidural adiciona outros tipos de riscos, incluindo dor espinal, incontinência urinária temporal, hipotensão materna, dores de costas a longo prazo, dores de cabeça, ciática e adormecimento ou formigueiro; em casos pouco comuns, produz-se paragem cardíaca, convulsões, ataques de alergia e paragem respiratória (12). A epidural eleva a temperatura da mãe, pelo que depois do nascimento esta pode requerer intervenções para descartar uma infecção. Ainda mais, a epidural pode ocasionar sofrimento fetal, uma vez que as drogas usadas passam ao sistema do bebé (13). A epidural também faz com que o parto seja mais lento, o qual pode contribuir para outra cesariana, por “não progressão de parto” (14), e usá-la aumenta a probabilidade de usar fórceps, uma vez que a mãe tem menor capacidade de puxar de maneira efectiva (15). Se sofreste uma cesariana por uma indução falhada ou por “não progressão de parto”, terás sofrido alguns ou vários dos efeitos secundários e os riscos de uma cirurgia maior, assim como os da indução, se bem que todos eles possivelmente poderiam ter sido evitados.
A ruptura artificial de membranas tão pouco se recomenda como indutor. Uma vez que a bolsa de águas está rota, aumenta o risco de infecção e impõem-se limites de tempo na maioria dos partos. Estatisticamente falando, a ruptura artificial de membranas aumenta, em vez de diminuir, a probabilidade de sofreres uma operação cesariana (16) (17).
Os bebés cujos nascimentos são induzidos parecem ter maior risco de serem prematuros (18). Apesar das provas e das melhores intenções do pessoal médico, não existe uma garantia total de maturação. Aliás, é mais comuns os bebés com nascimento induzido necessitarem de ressuscitação, a admissão numa unidade de cuidados intensivos e fototerapia para tratar a icterícia, e todos estes casos requerem a separação do bebé da sua mãe (19).

Ruptura uterina
Quanto à ruptura uterina, os factos falam por si mesmos: a indução farmacológica aumenta os riscos de ruptura uterina (39). A taxa de ruptura uterina num VBAC não induzido é só de 0.5%, menor que o risco de sofrer muitas outras complicações maiores do parto. No entanto, quando se introduz o factor indução, o risco aumenta. Um estudo recente, o qual obteve muita atenção por parte dos média, mostrou que nos VBAC induzidos com pitocina ou oxitocina, o risco de ruptura aumentou para 0.77% e com prostaglandinas como agente indutor, a taxa de ruptura uterina aumentou a 2.45% (40).
Quase todos os estudos confirmam o risco de indução nos VBAC, ainda que alguns não mostrem um incremento na taxa de ruptura (41). Num estudo realizado com 752 mulheres, ocorreram 12 rupturas uterinas, 11 das quais estiveram associadas ao uso de indução ou condução do parto ou ambos. Os autores afirmaram que o VBAC é seguro, mas que o VBAC induzido não o era (42). Num estudo mencionado acima sobre a eficácia da indução verificou-se que nos partos induzidos a taxa de deiscência da cicatriz é de 7% (43).
Uma revisão de cerca de 115.000 partos no Canadá confirmou que a indução ou condução do parto (usar agentes químicos para estimular uma maior actividade uterina num parto iniciado espontaneamente) são factores de risco confirmados para a ruptura uterina (44). Ainda que a condução do parto poderia ser uma opção menos questionada que a indução, uma vez que o parto já se iniciou, segue existindo risco de ruptura. Um estudo israelita concluiu que o uso de oxitocina e prostaglandinas aumentam o risco de ruptura (45). Outro estudo confirmou que os partos espontâneos têm um baixo risco de ruptura (0.45%), mas que o uso de prostaglandinas aumenta o risco 6.41 vezes (46).

Conclusão
Geralmente, a indução farmacológica que se pratica actualmente nos hospitais não consegue o que promete. Em vez que aumentar a probabilidade de ter um VBAC com êxito, a diminui, além de converter o teu parto numa experiência perigosa para ti e para o teu bebé. No caso de existir uma necessidade médica, a indução pode ser uma opção útil, mas não deve usar-se de forma não pensada. Se verdadeiramente precisas de uma indução, é de grande importância que se prepare o colo do útero o mais possível antes da indução de forma a maximizar a possibilidade de conseguir-se um VBAC.
Elege com muita cautela a pessoa que te vai atender no parto e discute detalhadamente com ele ou ela todas as opções antes de acederes a uma indução de parto para um VBAC.

Extraído do paper publicado no site ICAN, originalmente em espanhol com tradução livre para português. Este material pode ser copiado e distribuído sempre e quando se inclua o direito de Autor© International Cesarean Awareness Network, Inc. Todos os direitos reservados.
O paper completo pode ser lido em:
http://ican-online.org/resources/white_papers/wp_pharma_sp.pdf

segunda-feira, 5 de março de 2007

El Parto es Nuestro

Excelente para ver e reflectir... clicar aqui
Para quem quiser saber como deveriam ser feitas as coisas...
http://www.humpar.org/recomendacoes_oms.htm
http://sobcesaria.blogspot.com/2007/01/recomendaes-da-oms-no-atendimento-ao.html

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

O porquê da dor

A gente pode dissecar a questão da dor (do parto) de infinitos modos, pois não se trata de uma grandeza absoluta, não mede xis unidades de qualquer coisa. Ela é relativa, e a múltiplos fatores combinados entre si, físicos e psíquicos, conscientes e inconscientes, e a combinação de todos eles produz a percepção psico-física dentro de limiares individuais.
Na nossa cultura, o parto é na grande maior parte das vezes vivenciado e relatado como um evento em que está presente uma dor que beira o insuportável. Será necessário que seja assim? Vejamos...
Primeiramente há o aspecto evolutivo. O parto humano é o que apresenta a relação céfalo- pélvica mais estreita da natureza. Um dia resolvemos descer das árvores e caminhar sobre duas pernas. Outro dia resolvemos engrossar nossa camada de neo-córtex cerebral: resultamos bípedes e cabeçudos, porque somos metidos a não ser bestas. E na hora de parir nossos filhotes, os processos musculares de contração das paredes e dilatação do colo uterino, mais os movimentos do bebê empurrando-se para fora ocorrem sem folga de espaço, e as sensações fortes* que esses processos produzem podem ser interpretados como "dor", e potencializados em sensações ainda mais dolorosas se houver medo, insegurança, ou ação de hormônios artificiais como se costuma aplicar através de soro às mulheres em trabalho de parto com o objetivo de acelerar o processo, atingindo níveis de fato insuportáveis. Em "Correntes da Vida", o psicoterapeuta inglês David Boadella** descreve o comportamento uterino em trabalho de parto quando a mãe sente qualquer tipo de medo - consciente ou inconsciente:
"(...) o útero tenta fazer duas coisas antagônicas ao mesmo tempo: tenta abrir-se, sob a influência do relógio biológico que atua através do hormônio que prepara o caminho para o bebê nascer; e, simultaneamente, tenta manter-se fechado, sob a influência dos nervos simpáticos, trazidos à ação pelo medo. É como se alguém quisesse dobrar e esticar o braço ao mesmo tempo; o braço teria um espasmo, que causaria dor. isso é exatamente o que acontece com o útero de uma mãe que é incapaz de relaxar e que está condicionada a sentir dor."
Mas por que a mulher está condicionada a sentir dor? Um dos motivos é o arquétipo do parto doloroso em conseqüência do pecado original, como reza nossa cultura judaico-cristã. Ao expulsar Adão e Eva do Paraíso por terem provado do fruto do Conhecimento, o Criador lhes diz: "Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos" (Gênesis 3:16). Ora, como não sentir dor se o próprio Deus a determina? O arquétipo do parto como sofrimento foi literalmente in-corporado baixo a quase 6.000 anos de crença.
Outro aspecto importante, é o caráter fisiológico do parto. Esta noção não faz parte do senso comum: de que o ato de parir (assim como gestar e amamentar) é tão fisiológico e saudável quanto respirar, digerir, filtrar o sangue, pensar, absorver nutrientes, excretar, chorar, ouvir, enxergar, fazer sexo, fazer amor. Mas na nossa cultura, uma mulher grávida é vista como alguém sob risco potencial e iminente, o parto é visto como um evento necessariamente hospitalar e na maioria das vezes, cirúrgico. Ao transformar um evento potencialmente saudável em necessariamente patológico, a dor encontra campo fértil para ser identificada como tal. Está aí um dos fatores que levam tantas mulheres a sentir pavor pelo parto normal.
A dor tida por alucinante pode ser percebida como lidável quando a mulher, em primeiro lugar subtrai-lhe a parcela da dor propriamente dita, advinda do medo e da insegurança; o restante das sensações, ela pode converter em sensações lidáveis ao aceitar a natureza do seu corpo, aceitar as sensações do trabalho de parto não como alguma coisa a vencer, contra as quais se deve lutar - porque elas não resultam de uma patologia, não sinalizam alguma coisa que está errada, como uma fratura ou queimadura, por exemplo. Não. Essa sensação é uma aliada que sinaliza o processo fisiológico do parto, levando a mulher a fazer força, ou a se contorcer, a gemer, a acocorar-se ou a procurar a banheira, e entre as contrações as sensações atenuam, como ondas***, e você pode relaxar. As sensações intensas levam ao transe, e esse transe tem que ser aproveitado, ele faz parte. Você não precisa de anestésicos, ordem pra fazer força, fórceps. Você precisa apenas de liberdade para vivenciar seu parto.
O parto é você, é o seu corpo em plena atividade, e você não deveria deixar esta parte de você ser subtraída por uma conveniência que vem de fora. Existem séculos de uma cultura desfeminilizante costurando essa rede em que se cai tão facilmente, como eu mesma caí nos meus partos. Não é a mulher que precisa da anestesia, são os outros que precisam do conforto de uma mulher parindo quietinha.
E há outro aspecto que eu acho muito interessante que é a coisa do ritual de passagem. Nós cultivamos algumas manifestações externas de rituais, como casamentos, batizados, bar-mitzvahs, aniversários, festas da primavera, e essas festas refletem a nossa necessidade humana de marcar as passagens das fases, de criança inimputável para o adulto responsável, da vida individual para a vida em família, de um período de dureza para outro de fartura, enfim, quando passamos de uma fase para outra sem essa marca fica faltando alguma coisa. Tive um tio que foi tratado com hormônios nos anos 40 para acelerar seu crescimento. Na verdade ele foi cobaia das primeiras experimentações com hormônios no Brasil. De um dia para o outro ganhou pelos pelo corpo, engrossou a voz, a adolescência que deveria prepará-lo vagarosamente para a idade adulta veio num turbilhão que ele não deu conta e ninguém à volta dele compreendeu. Ele enlouqueceu.
Assim é com o parto. Quando se tenta ao máximo passar por ele como se nada tivesse acontecido - e o ápice disso é a cesárea eletiva, está-se pulando um ritual fundamental para o início da maternidade. E o efeito cascata começa: dificuldade de estabelecer vínculo com o bebê, depressão pós-parto, "falta" de leite, intolerância ao comportamento do bebê. O parto normal cheio de intervenções, do qual se diz "ah, foi uma beleza, não senti na-da!!! fiquei ali, conversando, e em xis (poucas) horas o bebê nasceu!!" não é muito menos maquiagem da passagem. Sim, "de repente" o bebê estava ali. E ela não precisou fazer nada. Inicia-se a maternidade com a sensação de que "não é preciso fazer nada" para ser mãe. E começa a transferência de responsabilidade... impulsionada pela sensação inconsciente de que a maternidade moderna NÃO PODE ser trabalhosa. E esse caráter trabalhoso que a maternidade efetivamente tem, não é, como nossa sociedade acredita, um sofrimento, um castigo do qual devemos nos livrar. Ao contrário, ela contém o extremo prazer que sentem as pessoas que superam desafios, convivendo com as mudanças no corpo e na vida pelo prazer que isso traz, em oposição à compulsão de querer lutar contra as mudanças irreversíveis promovidas pela chegada dos filhos.
O processo do parto vem sendo aprimorado há milhões de anos (ou milhares, depende do critério), e a humanidade definitivamente não aperfeiçoou este processo agregando-lhe tecnologia, apenas o corrompeu. Anestesia, ocitocina na veia, posição horizontal, raspagens, submissão a alguém como dono do parto, kristeller, amniotomia, episiotomia, tudo isso num trabalho de parto que está transcorrendo sem intercorrências, não é evolução: é perversão. Das grossas. Você e seu bebê não precisam de mais nada além dos seus corpos com seus hormônios para permitir o nascimento.
Precisamos desconstruir o conceito de parto doloroso, e compreender e desejar e conquistar o parto prazeroso, não importa quão trabalhoso ele possa ser. Não se deixem levar pela inércia do sistema obstétrico vigente, que inadvertidamente vampiriza a força, a beleza e a vida que mãe e bebê protagonizam no ato de parir e nascer.
* definição da Éllade França
** contribuição da Anita Cione
*** definição de Michel Odent
Mãe de Heloisa, Beatriz e Isabela (3 partos normais hospitalares)

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Monty Python - Hospital Sketch

Um parto segundo o humor negro dos Mounty Piton
Para rir mas acima de tudo para reflectir que algo vai mal nos protocolos do meio hospitalar...

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Cartaz nas urgências de obstetrícia do Hospital de Viseu

Este cartaz está exposto nas urgências de obstetrícia do Hospital de Viseu, nele estão enumeradas algumas vantagens e desvantagens da cesariana VS parto normal. É só clicar na imagem e esperar que ela apareça no seu tamanho original para poderem ler.
Queria acrescentar que no cartaz aparece a episiotomia e se sub-entende que ela é praticada por sistema, no entanto, a episiotomia realizada por sistema vai contra as recomendações da OMS para o atendimento ao parto normal. Existem exercícios que se podem fazer ao períneo para promover a sua elasticidade a partir da 34º semana de gestação, podem ler mais aqui. É claro que por si só não evita a laceração ou a episiotomia mas em conjunto com uma posição mais verticalizada no momento de parir e umas mãos sábias que protegem o períneo pode ser a diferença entre sofrer uma episiotomia e ficar com o períneo intacto.

Obrigada T. pelo envio da foto :)

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Estudo de 2006 destacado pelo ICAN (International Cesarean Awareness Network, Inc.)

Este estudo foi destacado pelo ICAN como sendo um dos 15 principais estudos feitos em 2006 sobre cesarianas.

Risco de Ruptura uterina durante o trabalho de parto em mulheres com uma ou mais cesarianas anteriores. (Risk of uterine rupture with a trial of labor in women with multiple and single prior cesarean delivery. Landon, et al., Obstetrics and Gynecology July 2006; 108:2-3,12-20)
  • Estudo do caso: Os autores analizaram se o risco de ruptura uterina é maior em mulheres com várias cesarianas anteriores;
  • Conclusão: o ter múltiplas cesarianas anteriores não aumenta o risco de ruptura uterina e os autores salientam que o parto vaginal após cesariana (VBAC) deveria ser uma opção para essas mulheres;

Este é o resumo do estudo na sua forma original:

Risk of uterine rupture with a trial of labor in women with multiple and single prior cesarean delivery.
Landon MB, Spong CY, Thom E, Hauth JC, Bloom SL, Varner MW, Moawad AH, Caritis SN, Harper M, Wapner RJ, Sorokin Y, Miodovnik M, Carpenter M, Peaceman AM, O'sullivan MJ, Sibai BM, Langer O, Thorp JM, Ramin SM, Mercer BM, Gabbe SG; National Institute of Child Health and Human Development Maternal-Fetal Medicine Units Network.
Department of Obstetrics and Gynecology, Ohio State University, Columbus, Ohio, USA. landon.1@osu.edu
OBJECTIVE: To determine whether the risk for uterine rupture is increased in women attempting vaginal birth after multiple cesarean deliveries.
METHODS: We conducted a prospective multicenter observational study of women with prior cesarean delivery undergoing trial of labor and elective repeat operation. Maternal and perinatal outcomes were compared among women attempting vaginal birth after multiple cesarean deliveries and those with a single prior cesarean delivery. We also compared outcomes for women with multiple prior cesarean deliveries undergoing trial of labor with those electing repeat cesarean delivery.
RESULTS: Uterine rupture occurred in 9 of 975 (0.9%) women with multiple prior cesarean compared with 115 of 16,915 (0.7%) women with a single prior operation (P = .37). Multivariable analysis confirmed that multiple prior cesarean delivery was not associated with an increased risk for uterine rupture. The rates of hysterectomy (0.6% versus 0.2%, P = .023) and transfusion (3.2% versus 1.6%, P < .001) were increased in women with multiple prior cesarean deliveries compared with women with a single prior cesarean delivery attempting trial of labor. Similarly, a composite of maternal morbidity was increased in women with multiple prior cesarean deliveries undergoing trial of labor compared with those having elective repeat cesarean delivery (odds ratio 1.41, 95% confidence interval 1.02-1.93). CONCLUSION: A history of multiple cesarean deliveries is not associated with an increased rate of uterine rupture in women attempting vaginal birth compared with those with a single prior operation. Maternal morbidity is increased with trial of labor after multiple cesarean deliveries, compared with elective repeat cesarean delivery, but the absolute risk for complications is small. Vaginal birth after multiple cesarean deliveries should remain an option for eligible women. LEVEL OF EVIDENCE: II-2.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

VBAC???? SIM! é possível :)

Ter um VBAC (vaginal birth after cesarean) é possível para a maioria das mulheres. Cerca de 70-80% das mulheres que tentaram um VBAC conseguiram-no. Acima de tudo é necessário ter confiança nos nossos corpos, acreditar que é possível, ter uma gravidez saudável, ter o acompanhamento de técnicos de saúde que partilhem da mesma opinião, deixar que o trabalho de parto começe por si e não haver recurso à utilização de qualquer substância com vista a acelerar o trabalho de parto. Deixo um link muito interessante dedicado a VBAC: www.vbac.com


Fica também a experiência de parto de uma mulher que pariu o seu filho naturalmente após 4 cesarianas anteriores e que é uma maravilhosa mensagem de esperança... o texto está em inglês e pode ser lido em Birth Day .

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Recomendações da OMS no atendimento ao parto normal

A) Condutas que são claramente úteis e que deveriam ser encorajadas
  • Plano individual determinando onde e por quem o parto será realizado, feito em conjunto com a mulher durante a gestação, e comunicado a seu marido/ companheiro e, se aplicável, a sua família.
  • Avaliar os fatores de risco da gravidez durante o cuidado pré-natal, reavaliado a cada contato com o sistema de saúde e no momento do primeiro contato com o prestador de serviços durante o trabalho de parto e parto.
  • Monitorar o bem-estar físico e emocional da mulher ao longo do trabalho de parto e parto, assim como ao término do processo do nascimento.
  • Oferecer líquidos por via oral durante o trabalho de parto e parto.
  • Respeitar a escolha da mãe sobre o local do parto, após ter recebido informações.
  • Fornecimento de assistência obstétrica no nível mais periférico onde o parto for viável e seguro e onde a mulher se sentir segura e confiante.
  • Respeito ao direito da mulher à privacidade no local do parto.
  • Apoio empático pelos prestadores de serviço durante o trabalho de parto e parto.
  • Respeitar a escolha da mulher quanto ao acompanhante durante o trabalho de parto e parto.
  • Oferecer às mulheres todas as informações e explicações que desejarem.
  • Não utilizar métodos invasivos nem métodos farmacológicos para alívio da dor durante o trabalho de parto e parto e sim métodos como massagem e técnicas de relaxamento.
  • Fazer monitorização fetal com auscultação intermitente.
  • Usar materiais descartáveis ou realizar desinfeção apropriada de materiais reutilizáveis ao longo do trabalho de parto e parto.
  • Usar luvas no exame vaginal, durante o nascimento do bebê e na dequitação da placenta.
  • Liberdade de posição e movimento durante o trabalho do parto.
  • Estímulo a posições não supinas (deitadas) durante o trabalho de parto e parto.
  • Monitorar cuidadosamente o progresso do trabalho do parto, por exemplo pelo uso do partograma da OMS.
  • Utilizar ocitocina profilática na terceira fase do trabalho de parto em mulheres com um risco de hemorragia pós-parto, ou que correm perigo em consequência de uma pequena perda de sangue.
  • Esterilizar adequadamente o corte do cordão.
  • Prevenir hipotermia do bebê.
  • Realizar precocemente contato pele a pele, entre mãe e filho, dando apoio ao início da amamentação na primeira hora do pós-parto, conforme diretrizes da OMS sobre o aleitamento materno.
  • Examinar rotineiramente a placenta e as membranas.

B) Condutas claramente prejudiciais ou ineficazes e que deveriam ser eliminadas

  • Uso rotineiro de enema.
  • Uso rotineiro de raspagem dos pelos púbicos.
  • Infusão intravenosa rotineira em trabalho de parto.
  • Inserção profilática rotineira de cânula intravenosa.
  • Uso rotineiro da posição supina durante o trabalho de parto.
  • Exame retal.
  • Uso de pelvimetria radiográfica.
  • Administração de ocitócicos a qualquer hora antes do parto de tal modo que o efeito delas não possa ser controlado.
  • Uso rotineiro da posição de litotomia com ou sem estribos durante o trabalho de parto e parto.
  • Esforços de puxo prolongados e dirigidos (manobra de Valsalva) durante o período expulsivo.
  • Massagens ou distensão do períneo durante o parto.
  • Uso de tabletes orais de ergometrina na dequitação para prevenir ou controlar hemorragias.
  • Uso rotineiro de ergometrina parenteral na dequitação.
  • Lavagem rotineira do útero depois do parto.
  • Revisão rotineira (exploração manual) do útero depois do parto.

C) Condutas frequentemente utilizadas de forma inapropriadas

  • Método não farmacológico de alívio da dor durante o trabalho de parto, como ervas, imersão em água e estimulação nervosa.
  • Uso rotineiro de amniotomia precoce (romper a bolsa d’água) durante o início do trabalho de parto.
  • Pressão no fundo uterino durante o trabalho de parto e parto.
  • Manobras relacionadas à proteção ao períneo e ao manejo do polo cefálico no momento do parto.
  • Manipulação ativa do feto no momento de nascimento.
  • Utilização de ocitocina rotineira, tração controlada do cordão ou combinação de ambas durante a dequitação.
  • Clampeamento precoce do cordão umbilical.
  • Estimulação do mamilo para aumentar contrações uterinas durante a dequitação.

D) Condutas frequentemente utilizadas de modo inadequado

  • Restrição de comida e líquidos durante o trabalho de parto.
  • Controle da dor por agentes sistêmicos.
  • Controle da dor através de analgesia peridural.
  • Monitoramento eletrônico fetal .
  • Utilização de máscaras e aventais estéreis durante o atendimento ao parto.
  • Exames vaginais freqüentes e repetidos especialmente por mais de um prestador de serviços.
  • Correção da dinâmica com a utilização de ocitocina.
  • Transferência rotineira da parturiente para outra sala no início do segundo estágio do trabalho de parto.
  • Cateterização da bexiga.
  • Estímulo para o puxo quando se diagnostica dilatação cervical completa ou quase completa, antes que a própria mulher sinta o puxo involuntário.
  • Adesão rígida a uma duração estipulada do segundo estágio do trabalho de parto, como por exemplo uma hora, se as condições maternas e do feto forem boas e se houver progresso do trabalho de parto.
  • Parto operatório (cesariana).
  • Uso liberal ou rotineiro de episiotomia.
  • Exploração manual do útero depois do parto.

Fonte: www.humpar.org